Link para página

Este site utiliza cookies que facilitam a navegação ou o registro e a captura de dados estatísticos.
A informação armazenada nos cookies é utilizada exclusivamente pelo nosso site Ao navegar com os cookies ativos consente a sua utilização.

A aldeia de Lousa tem um vasto património artístico e cultural enraizado em tradições e costumes repletos de originalidade, com destaque para a Festa de Nossa Senhora dos Altos Céus e das suas danças tradicionais.

Grande é a devoção deste povo pela sua Padroeira e, no dia da sua festa, depois de recolhida a procissão, têm lugar as Danças das Virgens (ou das Donzelas), a Dança dos Homens (também chamada da Farrombana ou das Genébres) e a Dança das Tesouras.

Em meados dos anos 30 do séc. XX estas danças deixaram de ser realizadas durante alguns anos, tendo sido reiniciada a tradição em 1958. De então para cá têm-se mantido a apresentação da  Dança das Virgens e da Dança dos Homens.

A Dança das Tesouras há muitos anos que não era dançada, sendo retomada em  2001 e, depois de 2005, é apresentada anualmente com as duas outras.

 

A Dança das Virgens ou Donzelas

Oito raparigas, de 15 a 18 anos, vestidas de branco, flores na cabeça e no peito, muitos objectos de ouro pendentes do pescoço, e lenço branco, engomado, na mão, percorrem as ruas e as principais casas da povoação, acompanhadas por um tocador de guitarra, ao som da qual dançam e recitam versos.

 

A Dança dos Homens, das Genébres ou da Farrombana

A Dança das Genébres é executada por 10 homens, 6 vestidos com calça e camisa branca, gravata, banda de seda, de cor azul, à cinta, muitas fitas, também de seda, pendentes dos ombros e, a servir de coroa, na cabeça, grande capela ou capacete de forma cónica enfeitada com flores artificiais  e fitas que lhes caem sobre as costas (complemento das que pendem dos ombros) encimada com um penacho de flores artificiais de várias cores e de penas brancas;

Três, os mais novos, vestidos de mulher, saia e casaco branco, rede preta de malha miúda e flores na cabeça, trunfa de cabelo na nuca, e muitos colares e outros objetos de ouro pendentes do pescoço; e, finalmente, o guardião, mestre ou ensaiador, vestido de soldado, com velha espada à cinta.

Dos seis primeiros, um toca a genébres(1) e cinco as bandurras(2), e os três que fazem de mulher, os pandeiros.

À ordem do guardião, formam todos em linha de três, ficando ao centro os que vestem de mulher.

E a dança começa ao som arranhado e chocalheiro da genébres, acompanhado pelas bandurras e pandeiros.

(1) - A genébres é um instrumento - que saibamos - único no País. Consta de 14 pauzinhos de pau-ferro, redondos, de tamanhos diferentes, enfiados, nas extremidades, em uma correia de couro. Crescendo em extensão, do primeiro ao último, por forma regular e progressiva, o maior deve ter de comprimento, pouco mais ou menos, o dobro do primeiro. A genébres é suspensa do pescoço pela correia que enfia nas extremidades dos paus e cobre o peito do tocador. Espécie de moderno xilofone que o tocador tange com o chuço, pedaço de pau da qualidade dos demais da genébres, produz sons mais ou menos arrastados, mais ou menos vivos, consoante a vontade do tangedor e o compasso da dança. A genébres pertence à comissão da festa e passa anualmente de uns para outros festeiros.

(2) - As bandurras, que noutro tempo se vendiam na Romaria da Senhora da Póvoa, são uma espécie de violas de cordas de arame, já hoje raras.

 

A Dança das Tesouras

Um grupo de 8, 10 ou 12 homens vestidos de cotim, lenço branco em volta da cabeça, cada um com sua tenaz fingindo tesoura; um velho dos mais folgazões da povoação igualmente vestido de cotim e com um lenço branco atado à cabeça, e alguns rapazes de 10 a 15 anos, com seus casacos vestidos das avessas, a fingir de carneiros, começam a Dança das Tesouras pela tarde de segunda-feira, à porta da Igreja, e percorrem seguidamente as ruas e principais casas do lugar, a cantar e a representar.

O grupo, de 8, 10 ou 12 homens, consoante os que se reúnem, forma duas alas, frente a frente, a pequena distância uma da outra, deixando no meio os rapazes (carneiros).

Simulando tosquiá-los, os homens batem as tenazes e cantam.

In “https://sites.google.com/site/lousanet/cultura/dancas-tradicionais

 

A Viola Beiroa nas Danças Tradicionais da Lousa e Delimitação da área geográfica

Conforme refere a autora Susana Dias, a Viola Beiroa era "usada na Lousa desde o século XVII para acompanhar a "Dança das Virgens" e a "Dança dos Homens". As Danças Tradicionais da Lousa, que foram objeto de inscrição  no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (Anúncio 6/2015, D.R. , 2ª série, n.º4, 7 de janeiro)  incluem ainda a "Dança das Tesouras", para além daquelas duas danças.

No documento "Pedido de Inventariação Danças Tradicionais da Lousa no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial", em que é descrita e caracterizada pormenorizadamente cada uma das danças da Lousa, refere-se que as "Danças Tradicionais da Lousa consistem num conjunto de manifestações musicais e coreográficas, específicas desta povoação, integradas nos festejos em honra de Nossa Senhora dos Altos Céus".

Para além do papel dos dançarinos, em cada uma das danças, "destaca-se o papel dos tocadores que, no caso das Virgens é apenas um e toca a guitarra portuguesa, não integrando a Dança e, no caso dos Homens, coincide com os 6 dançarinos uma vez que estes dançam e tocam em simultâneo. Dos 6 dançarinos/tocadores, 5 tocam viola beiroa e um deles toca a genebres" (Julho de 2014, 4).

Conforme refere Isabel Leal da Costa(1) "A viola beiroa, também conhecida por bandurra, é um instrumento popular português que aparece na zona raiana, no Distrito de Castelo Branco.(...) Embora menos difundida que o típico adufe beirão é um dos instrumentos que acompanha a Dança dos Homens" (2011, 83).

Na descrição e caracterização que (2)Lopes Marcelo faz dos instrumentos mais representativos da Beira Baixa, faz referência à viola beiroa ou bandurra. "Trata-se de uma viola popular portuguesa de cinco ordens de cordas de arame" e que era utilizada para acompanhamento de "descantes festivos, aos domingos, nas tabernas e, sobretudo, nos parabéns e serenatas aos noivos, nas vésperas e na noite da boda. Atualmente, quase desapareceu e apenas pode ser encontrada em ocasiões cerimoniais, destacando-se a sua aplicação na Dança dos Homens, nas festas de Maio, em honra da Senhora dos Altos Céus, na Lousa, bem perto de Castelo Branco" (1993, )

(1) As Danças Tradicionais da Lousa, Um Património da Beira Baixa, RVJ Editores, Castelo Branco,.

(2) Beira Baixa, Novos Guias de Portugal, Editorial Presença, Lisboa.

Fotos: José Pio