De 16 de setembro 2023 a 3 de março de 2024
A obra de Xosé Luís Otero (Nocelo da Pena, Galiza, Espanha, 1966) constrói-se de memórias e materializa-se a partir de objetos, fragmentos, e tantas outras referências resgatadas do longínquo passado em que ficou a sua infância. Cada obra constitui-se como um ossário de lembranças, como estruturas visíveis de uma trajetória que é, em essência, uma complexa viagem interior, com diferentes entradas para a memória. É grandemente um exercício de experiências vividas e que agora desvela, trazendo ao presente algumas das questões existenciais que sempre o inquietaram, como a condição humana, a sua relação com Deus, mas também com o medo, a culpa, o pecado ou a morte.
As suas criações são, na verdade, alegorias que dão origem a uma multiplicidade de narrativas e significados que se intercetam, complementam ou dispersam pelos distintos espaços expositivos do CCCCB. Xosé Luís Otero assume-se, assim, à semelhança do Minotauro, protagonista do fantástico conto A casa de Astério, de Jorge Luís Borges, como o guia que nos vai conduzindo pelos múltiplos caminhos do seu labirinto.
Em cada sala ou corredor, confronta-nos com uma intrincada trama de acontecimentos, sobretudo com os seus medos e fragilidades, mas também com episódios trágicos, cujas histórias tanto se alicerçam a partir de referências reais como se misturam com o fantástico da cultura popular ou da mitologia clássica.
A sua obra é gerada por imagens parcelares ou fragmentos, como se neles capturasse uma determinada fração de espaço e de tempo, um lugar e um momento. São destroços de vivências ou histórias relembradas pelos avós, que parecem funcionar como arqueologias de espaços agora desabitados, lugares de esquecimento, silenciosos, vazios, que encerram a tensão do que aí, em algum momento, parece ter acontecido.
Há no seu trabalho uma predileção pelos grandes formatos, pelas composições agrupadas e pelas montagens cenográficas, que combina num jogo de arquiteturas e de tantas outras estratégias processuais que continuamente desafiam o visitante a uma experiência profundamente imersiva.
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